quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Beatriz...


Quero descansar neste azul dos teus olhos
Da tua tranquilidade.
Da tua curiosidade de descobrir o mundo
Quero a inquietação.
Do teu riso fácil quero a espontaneidade.
Da tua face clara, limpa, quero a pureza.
Do teu corpo pequeno e frágil a delicadeza.
Para deixar de ser o homem forte.
E ser o homem que entende, que ouve, que se emociona.
Que chora e ri, que sente raiva e pena.
Que transparece além do seu muro de força.
Obrigado por me fazer mais humano, minha filha.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Eu sei mas não devia

(Marina Colasanti)


Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

(1972)

terça-feira, 20 de outubro de 2009

(...)

Um pouco de mim largado
Em cada um por quem passei
Que amei, deixei pra trás
Um pouco da saudade de cada um
Que fica comigo, que viaja junto
E espalha pelo mundo
Um pouco do mundo que vivi...

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Apressando a Vida...

(Roseli Sayão)

O avião em que viajo finalmente pousa. Cautelosa, espero que a aeronave pare totalmente para relaxar por saber que cheguei sã e salva. Estou sentada numa poltrona do corredor e prefiro esperar as portas se abrirem para levantar. Não consigo: sou atropelada por um senhor, com terno de corte fino, que estava sentado ao lado da janela e tem pressa.

Ele nem sequer pede licença para passar ou espera que eu me levante: simplesmente passa por cima de minhas pernas. Aguardo um pouco e, quando a fila caminha em direção à saída, tento sair. Dura empreitada essa: ninguém está disposto a dar passagem porque isso significa chegar atrás, mais tarde. Segundos apenas, mas mais tarde. Encontro-me com quase todos os companheiros de viagem no ônibus que nos leva até o saguão do aeroporto e enfrento a mesma dificuldade para dele descer e chegar à esteira onde pegarei minha bagagem. Estão lá, os apressados, e vão esperar comigo a mala chegar.

A pressa tomou conta de nossas vidas. Corremos desde que acordamos. O banho é rápido -além de tudo, é preciso economizar água e energia-, o café da manhã é tomado com a leitura do jornal ou outra atividade qualquer, os filhos são empurrados para o carro e, com toda a velocidade, enfrentamos o trânsito emperrado para chegar ao nosso destino. É no trânsito, principalmente, que constatamos a pressa de quase todos: é difícil sair da garagem, já que poucos se dispõem a esperar alguns segundos para dar passagem. Passar de uma pista para outra é tarefa para piloto de Fórmula 1: poucos deixam ser ultrapassados.

As crianças percebem desde cedo a nossa correria e a adotam. Quando bebês, os primeiros passos são dados apressadamente para garantir um equilíbrio ainda em desenvolvimento. Daí em diante, é difícil ver crianças andando: correm sem motivo nenhum. E nós, em nossa pressa, achamos natural que corram dentro de casa, na escola, onde as levamos.

Incentivamos a corrida sem fim dos mais novos: queremos que aprendam tudo rapidamente e cedo, de preferência sem exigir muito de nossa parte para que não atrapalhem a nossa própria corrida. É no futuro deles que pensamos? A justificativa que assumimos foi essa. Mas, pensando bem, ela pode ser uma desculpa que construímos para adequar o papel educativo ao estilo de vida corrido que adotamos. Afinal, estimulando e empurrando os mais novos para essa corrida, tantas vezes desrespeitamos etapas de suas vidas, ritmos pessoais etc.

Aonde precisamos chegar com tanta pressa? Ao pensar nessas questões, ocorre-me o personagem do filme "Forrest Gump", que, em determinado momento de sua vida, decide correr. Ele simplesmente corre: sem motivo, sem destino.

Para que não façamos o mesmo, precisamos nos perguntar diariamente: "Por que estou correndo? Será que poderia realizar a mesma coisa com mais calma e melhor?". Desse modo, certamente poderíamos diminuir nosso alto grau de estresse, dedicar mais tempo aos filhos e, assim, ter uma vida melhor com e para eles.

Changes

I feel unhappy, I feel so sad
I've lost the best friend, that I ever had.
She was my woman, I love her so.
But it's too late now, I've let her go.

I'm going through changes.
I'm going through changes.

We shared the years, we shared each day.
In love together, we found a way.
But soon the world, had it's evil way.
My heart was blinded, love went astray.

I'm going through changes.
I'm going through changes.

It took so long, to realize.
And I can still hear her last goodbyes.
Now all my days, are filled with tears.
Wish I could go back, and change these years.

I'm going through changes.
I'm going through changes.

(Black Sabath)

Escutei esta música na entrada de um casamento. Muito estranho...

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Quinta Categoria


Hilariante.
O programa Quinta Categoria, apresentado todas as quintas feiras pela MTV é um dos programas mais impagáveis da televisão brasileira.
Marcos Mion e a equipe de atores (Os Barbixas) fazem um show de teatro de improviso super engraçado e contagiante.
O tempo certo da piada, a mente aberta para achar a palavra certa, a expressão corporal, são utilizadas na mais variadas situações criadas com a participação do público. Um achado nesta época em que humor na televisão brasileira está em baixa.
Ok, é uma versão brasileira do Drew Carrey Show (Whose Line Is It Anyway?), onde atores também faziam teatro de improviso de forma surpreendente, mas esta versão brasileira e "jovem", é o tipo de humor inteligente e rápido.
Assista, toda quinta feira, por volta de 22:30 (após o também engraçado Furo MTV).
Vale a pena ir para a sua sexta feira com o espírito leve.

sábado, 3 de outubro de 2009

Mudan...........................ça

É... mudar não é fácil. Normalmente ficamos acostumados aos luxos de frequentar os mesmos lugares, ir todo dia trabalhar na mesma mesa, com as mesmas pessoas, fazer as mesmas tarefas.Há quem diga que a rotina é chata.-Chato e incômodo é ter que mudar.
A rotina é segura. É dentro daquilo que conhecemos. É um porto seguro.
O grande problema é que ela não nos engrandece. Ela nos esconde do mundo. Com a rotina ficamos acobertados o tempo todo.
Estarei novamente em mudança. Novas coisas para fazer, outros ares para conhecer.
Apesar de ter passado por muitas mudanças na vida, o frio na barriga sempre vem. Insegurança? Medo? Até pode ser. Sem estas coisas o homem não cresce (ou vive pouco).
O que sei é que devo estar preparado para as mudanças. Precisamos estar sempre.
Em época de mudança, do desconhecido aparecendo à sua frente, do que necessitamos? - Olhos abertos, ouvidos sensíveis, cabeça rápida. Neste mundo não se perdoa falha. Por isso que vivemos tão poucas descobertas casuais. Tudo é muito calculado, muito certinho.
Mudança que é mudança tem que ter erro, tem que ter acertos(preferencialmente mais que erros). Mudança tem que ter crescimento. Tem que dar sustos e permitir respirar aliviado.
Em toda mudança temos que ter responsabilidade.
O ato de mudar é crítico, mas é a única coisa que traz o progresso.
O que virá, virá. O que será serei eu que farei.