segunda-feira, 29 de setembro de 2008

O pouco que sobrou

Eu cansei de ser assim
Não posso mais levar
Se tudo é tão ruim
Por onde eu devo ir?
A vida vai seguir
Ninguém vai reparar
Aqui neste lugar
Eu acho que acabou
Mas vou cantar
Pra não cair
Fingindo ser alguém
Que vive assim de bem

Eu não sei por onde foi
Só resta eu me entregar
Cansei de procurar
O pouco que sobrou
Eu tinha algum amor
Eu era bem melhor
Mas tudo deu um nó
E a vida se perdeu
Se existe Deus em agonia
Manda essa cavalaria
Que hoje a fé
Me abandonou


Marcelo Camelo

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

O Clube das Cartas

Em minha última viagem, visitei um cliente que tem por costume escrever cartas.
Sim, este cliente pega uma folha de papel, escreve uma carta contando as novidades, coloca no correio e envia a outra pessoa. Ele faz isto constantemente.
Isto trouxe à minha cabeça um assunto que estive matutando à muito tempo. Com a vinda dos recursos de tecnologia, perdemos o encantamento de escrever. Tudo fica rápido, não temos mais o cuidado de colocar as palavras. Escrevemos rapidamente, e se não der certo, apagamos até achar a forma exata.
Quando escrevemos um texto, uma carta no papel, tomamos o devido cuidado de colocar as palavras, de caprichar a letra, apreciamos o ato de colocar acontecimentos, impressões, sentimentos em uma folha, pensando na forma como será recebida a mensagem pela outra pessoa.
No momento em que escrevemos, temos o devido carinho com a mensagem a ser colocada. Pensamos mais no que vamos falar (erramos menos). Fazemos com que a carta tenha um valor sentimental maior, pois cuidamos do que estamos falando.
Em uma carta, não há rompantes de ira sem a devida reflexão (uma ofensa em uma carta deve doer muito, pois é feita somente após o assunto ser muito bem discutido internamente pela pessoa), bem como em uma carta, uma declaração de amor pode ser eterna (ainda lembro que minha mãe guardava as cartas de meu pai para ela em um baú que ninguém tinha a chave).
Sim, uma simples carta. Você parou para pensar quanto tempo faz que um carteiro não lhe entrega uma carta que não seja uma cobrança, ou uma propaganda?
Por isso vou fundar o clube da carta. Sim, vou passar a escrever cartas para as pessoas que gosto. Quem sabe passo a ter um carinho melhor pelo que falo, pelo que coloco para as pessoas. Este cuidado que o mundo tanto precisa, mas a pressa (de ir não sei onde) está tirando dos relacionamentos.
Se quiser participar,é só falar.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

doce solidão

posso estar só mas sou de todo mundo
por eu ser só um
a nem
a não
a nem dá solidão
foge que eu te encontro que eu já tenho asa
isso lá é bom
doce solidão?

(Marcelo Camelo)

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Caras

Não sei se a mídia não tem medo da superexposição de assuntos idiotas que ela leva ao público. Vejo uma centena de revistas de fofocas, sites com assuntos inúteis, o mundo das "celebridades" sendo escarrados diariamente na infovia.
Sinceramente, até quando daremos ouvidos a este festival de besteiras, ou até quando as pessoas irão querer se expostas ao desvario de repórteres e fotógrafos, ávidos por saciar nossa "curiosidade" atiçada por eles próprios.
Decidi, nunca mais compro "Caras" (até parece).

Já dizia o anúncio de uma revista: "Quem tem bunda aparece em Caras, quem tem cara aparece em "Bundas" (publicação que já deixou de ser feita).

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Milonga para Jacinto Chiclana

Me acuerdo, fue en Balvanera,
en una noche lejana,
que alguien dejó caer el nombre
de un tal Jacinto Chiclana.

Algo se dijo también
de una esquina y un cuchillo.
Los años no dejan ver
el entrevero y el brillo.

¡Quién sabe por qué razón
me anda buscando ese nombre!
Me gustaría saber
cómo habrá sido aquel hombre.

Alto lo veo y cabal,
con el alma comedida;
capaz de no alzar la voz
y de jugarse la vida.

(Recitado)

Nadie con paso más firme
habrá pisado la tierra.
Nadie habrá habido como él
en el amor y en la guerra.

Sobre la huerta y el patio
las torres de Balvanera
y aquella muerte casual
en una esquina cualquiera.

No veo los rasgos. Veo,
Bajo el farol amarillo,
El choque de hombres o sombras
Y esa víbora, el cuchillo.

Acaso en aquel momento
En que le entraba la herida,
Pensó que a un varón le cuadra
No demorar la partida.

Sólo Dios puede saber
la laya fiel de aquel hombre.
Señores, yo estoy cantando
lo que se cifra en el nombre.

Entre las cosas hay una
De la que no se arrepiente
Nadie en la tierra. Esa cosa
Es haber sido valiente.

Siempre el coraje es mejor.
La esperanza nunca es vana.
Vaya, pues, esta milonga
para Jacinto Chiclana.

(homenagem ao Coral Universitário de Joinville, com o qual passei oito bons anos, e ao maestro Luiz Fernando Melara, ao compositor mestre Astor Piazolla e ao autor da poesia Jorge Luis Borges)

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Eleições

Não sei se rio ou se choro... quem são estes estranhos seres (não parecem humanos), que tentam se vender diariamente na TV, no rádio e ao vivo, com promessas que sabemos que não irão se concretizar?
Tortura ou circo para o povo?
Dizem para não vender o voto, por causa dos maus políticos, mas permitem que os políticos de ficha suja concorram.
Decidi... é tortura mesmo.

De onde vem a calma

De onde vem a calma daquele cara?
Ele não sabe ser melhor, viu?
Como não entende de ser valente
Ele não saber ser mais viril
Ele não sabe não, viu?
Às vezes dá como um frio
É o mundo que anda hostil
O mundo todo é hostil

De onde vem o jeito tão sem defeito
Que esse rapaz consegue fingir?
Olha esse sorriso tão indeciso
Tá se exibindo pra solidão
Não vão embora daqui
Eu sou o que vocês são
Não solta da minha mão
Não solta da minha mão

Eu não vou mudar não
Eu vou ficar são
Mesmo se for só não vou ceder
Deus vai dar aval sim
O mal vai ter fim
E no final assim calado
Eu sei que vou ser coroado rei de mim.

(Marcelo Camelo)

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Eu creio em você

Eu creio na decência humana
Na solidariedade
Na consciência de que temos um mundo para cuidar

Eu creio no infinito amor
Que nos fez estar neste mundo
Para cuidarmos uns dos outros (e do planeta também)

Eu creio no prazer de viver
De viver seu tempo
Com toda a beleza que cada tempo tem na existência do homem

Eu creio em você

Que é a força que luta contra um mundo adverso
Que resiste com suavidade,
Com gentileza
Com o que de melhor existe na humanidade
E faz meu mundo ser melhor

Eu creio em você