quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Um post legal...




Decisões

Numa fria tarde de novembro de 1961, quatro rapazes caminhavam à beira do rio Mersey. Ares preocupados, o vento batendo em suas franjas, de vez em quando olhavam para os navios que entravam pelo porto de Liverpool.
Eles lembravam-se, quem sabe, do tempo em que tinham que tocar oito horas para ganhar uns cobres num clube de Hamburgo. Tempos difíceis, é verdade, mas pelo menos não havia a tensão de se ter que tomar decisões, como naquela hora. Então um deles resolveu falar:
"Vamos encarar a realidade, rapazes, isso não vai dar certo." Era Pete Best (o terceiro aí da foto), um rapaz alto, forte e bem apessoado, o baterista do grupo. "Estamos na estrada há anos e até agora só estamos perdendo tempo. Agora, trabalhar para um empresário bicha é o fim da linha."
"Pode dar certo", murmurou George sem muito entusiasmo.
"Eu não acho que devamos desistir", completou Paul. "Acho que ainda podemos ganhar dinheiro com isso."
"Quem poderia substituir você?", completou John, sempre mais frio e pragmático que os outros.
Pete esperava algum tipo de adulação. A pergunta de John deixou-o um pouco incomodado. Ainda assim, não perdeu a pose:
"Pode ser aquele narigudo, o Starkey".
Ninguém respondeu nada. Continuaram caminhando com os rostos enfiados nos capotes. Best, ainda mais incomodado com o silêncio, resolveu abrir o jogo. Disse que sua mãe lhe havia proposto tomar conta de um bar em Penny Lane e ele estava disposto a aceitar. Os outros talvez tivessem ficado com alguma inveja daquela estabilidade financeira tão precoce, mas nada disseram.
O que é bom para nós, pode não ser para você", sentenciou George com ares de filósofo oriental.
Pete animou-se com a resposta e, com pena dos amigos, procurou encorajá-los. Disse que o rock'n roll estava no fim, que ninguém poderia substituir Elvis e que eles deveriam investir na música italiana, estara é que seria a música dos anos 60. No fim, despede-se dos amigos com um abraço.
"Boa sorte, Pete", disse John.
"É isso aí", falou George.
"Obrigado pelos conselhos, mas vamos ficar mais um pouco", finalizou Paul. "Talvez a gente ainda ganhe algum dinheiro com isso."
Pete soltou um longo suspiro. Estava com uma sincera pena de seus amigos. "Vocês é que sabem, rapazes, mas não vão dizer que eu não avisei..."
2
No outro lado da cidade, um narigudo, dono de de um arrojado topete e com a barba por fazer, espera sua namorada sair da manicure lendo sobre a apertada vitória do Blackburn sobre o Warrington pela segunda divisão do campeonato inglês.
"Esperou muito, Ringo querido?"
"Já lhe disse, Maureen, não gosto que você me chame de Ringo. A última coisa que me lembro quando olho no espelho é de um pistoleiro mexicano."
"OK Rick. E quanto àquele negócio, já decidiu?"
"Mamãe acha melhor eu aceitar aquele o emprego de fiscal de vigilância sanitária. Ela disse que eu sou um cara de muita sorte por conseguir passar nesse concurso."
"E a música, Ringo."
"Rick."
"Está bem. E a música, Rick?"
"Não vamos discutir isso de novo. Eu entendo tanto de música quanto você entende de corrida de cavalos."
"Mas você está ficando melhor. Ontem, em Mr. Moonlight você manteve o compasso até o final."
"Você está falando para me agradar."
"Não acho certo que você desista de um sonho."
Richard estava em dúvida. Se havia algo que ele detestava era decepcionar alguém. Sua mãe queria o emprego público, sua namorada queria a carreira artística. No entanto, Richard planejava levar Maureen a um drive-in naquela noite. Se a desapontasse, poderia ter que ficar em casa ouvindo um concerto da BBC ao lado de sua mãe.
"Está bem, vou tentar mais um pouco na música. Ano que vem vão abrir outro concurso mesmo."
"Eu te amo, Ringo."
"Não me chame assim, eu detesto apelidos ridículos."


Blog do Torero... http://blogdotorero.blog.uol.com.br .

Um comentário:

Débora disse...

A vida é um jogo de pôquer. Ás vezes a gente tem que apostar tudo, mesmo não tendo na mão nada que valha alguma coisa. (filosofia de quarta-feira corrida.. hehehe)